Olá!

Aqui você encontra vários tipos de textos com reflexões, introspecções, filosofadas e relatos, tudo sob a luz do mosaico. Desejo inspirar você com a mesma arte que me inspira.

Caminhando através do tempo.

As visitas ao passado continuam. Ainda na área das luminárias, escolhi fazer o que chamo de "Luminária Frente Única". Funciona assim: você pega uma garrafa e corta o topo e a base. Sobrará um cilindro. Cortando este cilindro ao meio, duas "meia lua" de vidro surgirão. Fixe uma dessas metades em uma base e você terá uma luminária frente única. Se minha memória não estiver desorganizada, a ideia surgiu da mente brilhante da minha irmã. Naquela época ela estava muito interessada no mundo do vidro. Fez dezenas de experiências que me inspiraram de uma maneira absurda. Enquanto minhas ideias bitolavam no arroz com feijão, as ideias dela corriam selvagens, provando todos os sabores que sua alma podia oferecer.

Na época fiz apenas três exemplares:

A primeira de todas, fazendo a festa com os vidros reutilizados e pintados.
Na segunda me senti um pouco mais à vontade para brincar com as formas.
Na terceira já comecei a sair do armário. Assumi o arco-íris e o aspecto rústico.
Elas foram feitas em 2011, 2012 e 2013 respectivamente, com quase uma ano de diferença entre uma e outra. Cinco anos depois que última foi feita, nasce a irmã mais nova. As diferenças são grandes...

Cadê os vidros coloridos?
Na base, ao invés de MDF, usei um restinho de WEDI e a luminária ficou leve. Gostei disso. Por alguma razão nem cogitei os vidros pintados. Usei muita miçanga, stained glass, gemas, millefiori, pastilhas de vidro e um coração lindo de vidro fusing. Aliás, ele foi o ponto de partida.

Mas ainda é rústica como a luminária anterior.
Achei que era uma boa pintar a base ao invés de revestir e a composição me agradou bastante. O vidro e a pintura se complementam.
Quando a gente escuta que tudo muda o tempo todo acho que é exagero, não acha? Mas eu fiquei meio besta vendo as fotos e me perguntando "quem são essas pessoas que fizeram essas luminárias?". É absolutamente incrível como mudamos através do tempo e eu definitivamente não estou falando do corte de cabelo, de rugas ou do estilo de roupa. Mudamos no nosso âmago, sem perceber ou percebendo, no comando de alguma coisa ou à deriva.


Não é admirável essa força que nos toca e que nos move? TUDO é movimento. Muito, mas muito do que nos atinge independe da nossa escolha. Habitamos uma teia complexa, onde tudo está conectado. Alguém resolve derrubar uma pecinha lááááá longe e por efeito dominó somos nós que colhemos as consequências.



Não dá para controlar o que é externo e não dá para voltar no tempo. O que dá é fazer o melhor possível com aquilo que se tem. O que dá é deixar o estéril "e se..." de lado (de preferência morto e enterrado). O que dá para fazer é tentar. Se der certo, ótimo! A gente aproveita para ser feliz por um momento e depois continua andando. Se tudo der errado, a gente respira fundo e segue andando, mudando, andando e mudando, nessa alternância fascinante que chamamos de vida.


Até a próxima!
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Faça-se a lu...minária!

São vários os sentimentos capazes de nos mover. Esperança, raiva, curiosidade, convicção, esses e outros tantos estados de espírito são capazes de nos fazer dar um passo em outra direção. Ultimamente a força que me conduz é a saudade, uma saudade generalizada que vai dos acontecimentos recentes até um passado distante.

Não é de hoje que prefiro permitir que os sentimentos venham, fiquem e depois partam. Não há porta escancarada o suficiente capaz de fazer a melhor alegria do universo entrar e nem porta trancada o suficiente capaz de manter do lado de lá a tristeza mais profunda. Então é melhor que venham, é melhor que convivamos um tempo, que nos olhemos diretamente nos olhos, aprendamos alguma coisa um sobre o outro para, a seguir, nos separarmos novamente.

Com a saudade instalada aqui em casa - e ela ocupa todos os cômodos desse apartamentinho - sentamos para fazer não uma luminária, mas uma sessão de recordações. Houve descoberta, houve encanto, houve abismo, houve um punhado de pequenos detalhes que só agora sou capaz de entender. Fizemos uma celebração serena sobre o que passou. Agora tento ver quais os caminhos que podem estar à frente. Tento sozinha mesmo, porque acho que a saudade não é muito boa em fazer planos.

Uma vez montada a base, decidi que para revestir queria usar pastilhas avulsas, ou seja, aquelas que vão sobrando e que a gente junta tudo num pote. Também escolhi usar vidro transparente, dando uma segunda vida a um pote de conserva cuja missão de conter alguma coisa já fora cumprida. E gemas! Claro! Na verdade, se fosse possível, eu comeria gemas de vidro porque as acho lindas demais (é normal desejar comer uma coisa que consideramos bonita?). Ciente que meu sistema gastro intestinal é incapaz de digerir vidro, uso as gemas na luminária mesmo.

A diversão maior veio de usar as pastilhas randomicamente. É claro que durante o processo vou colocando alguns critérios para preservar a harmonia, mas nada rígido demais, senão não teria como o acaso participar e eu gosto de saber o que o acaso tem para me dizer.

Assim, depois de alguns dias, eu, a saudade e o acaso concluímos essa luminária. Não sei eles, mas eu gostei muito, muito, muito do resultado.


Olhando assim, de frente, ela parece séria.

Mas é só mudar o ângulo que já dá para ver o sorriso dela.

Ela é quadrada por força das circunstâncias.

Mas ela se sente meio redonda, circular.

Não tem começo.

E também não tem fim.

Desde que ela ficou pronta, de quando em quando vou até a prateleira só para senti-la com as mãos. Ela é nova, mas me parece antiga. Parece que está ligada há algo muito antigo que há em mim, mas eu não sei dizer o que é.



Na escuridão sempre há uma brecha para a passagens da luz. Isso consola e acolhe.

Mas quando é invadida pela luz do sol, sua plenitude se revela.
Por aqui caminhamos agora para uma fase que chamo de "recolhimento forçado". Por maior que seja o seu desejo de extroversão, ele será tolhido pela pouca luz e pelo frio. Somos obrigados a um desafiador período de introspecção que exige de nós concentração e disciplina a fim de que nossa chama interna não se apague.

Tento ver estes períodos (sejam eles literais ou figurados) como uma oportunidade silenciosa e solitária de conexão íntima, um momento de (auto)aceitação, de apaziguamento para que se possa, quem sabe, brotar e desabrochar em cores quando a primavera chegar.

Até a próxima!

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O mosaico é meu espelho.

Toda vez que a gente estuda alguma coisa, recebemos um pacote de regras e parâmetros que, dali para frente, deve ser aplicado. Essa é a teoria. No decorrer dos anos, constato repetidamente que tenho uma dificuldade com isso. Acho que devo ser a personificação do desgosto para meus professores. Não consigo honrar suas regras. Não que exista algo de errado com elas, porém eu as entendo como um ponto de partida para um outro lugar e não um fim em si mesmo. Acredito que se não permitirmos que nossa mente dance livremente, sem coreografia, ficaremos todos repetindo os mesmo passos e isso é muito triste (para mim). Como estamos todos vivendo numa mesma era, (teoricamente) num mesmo mundo, o conforto da inércia nos conduz à reprodução do que já existe. Aí alguém resolve mudar uma vírgula ou duas ou três...e todos passam a mudar uma ou duas ou três vírgulas. Isso não diminui o valor de tudo que é feito, mas acho que não faz jus ao universo infinito que é um indivíduo, à toda percepção única da qual uma pessoa é capaz. É por isso que tenho uma relação meio arisca com regras, ou melhor, com o uso que fazemos das regras.

O mosaico foi o campo vasto que me mostrou este aspecto de mim mesma. Um dos trabalhos que mais gosto de fazer é o de revestir garrafas. Acho mágico e lindo. Desde que fiz o curso, minhas garrafas foram mudando na mesma medida que fui deixando de seguir as regras. E isso aconteceu porque algumas delas impediam minha expressão. É a sensação de usar uma roupa apertada, entende? Então escolhi a liberdade e sei que, muitas vezes, faço isso em detrimento da técnica ou de parte dela. Mas liberdade é esse ópio capaz de nos conduzir à própria paz...fica difícil de abrir mão. Escolhas, meus amigos! A vida é feita de escolhas...

Eis aqui meu mais recente sussurro de liberdade. Eu só sabia que queria usar essas pétalas de vidro vermelho. O que se seguiu foi aquela conversa entre mim e o vidro, permitindo à espontaneidade dizer onde cada peça deveria ser colocada.


Aqui preciso abrir um parênteses só para dizer que me apaixonei por essa lateral. Gostei dela infinitamente mais do que da parte da frente.




Agora, veja que interessante: o aspecto final desta garrafa não me mostra um resultado inédito. Quero dizer, esse padrão geométrico, especialmente da lateral, é familiar para mim. De onde exatamente eu não sei, mas tenho a sensação exata de que isso já existe em algum lugar. Não é impressionante? Ainda que eu diga para minha mente "vai para onde você quiser, do jeito que você quiser", de alguma maneira trilhei um caminho conhecido. Daí eu entendo que entre escolher a liberdade e efetivamente desfrutá-la existe um abismo imenso a ser transposto. E por que eu faço questão de perseguir algo abstrato e distante? Bom, poderíamos passar dias tentando formular a resposta, mas resumindo porcamente é porque sinto que a minha verdade está do lado de lá daquele abismo, acenando e sorrindo para mim.

Beijos a todos que tentam voar e até a próxima!

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Adriana, o Smalti e a chama da paixão.

Da última visita ao Brasil trouxe comigo uma base de ferro para mosaico feita pelo Sr. Walter. Para quem não sabe, o Sr. Walter é um talentoso artesão que fazia camas e portões de ferro. Com a idade e mais as exigências que o trabalho pesado teve sobre seus braços, ele precisou deixar as grandes obras de lado e se dedicar a peças menores. Seus arabescos caprichados emolduraram vários números residenciais e vários Olhos Gregos que fiz. Fazia séculos que eu não fazia nenhum Nazar (nome turco do olho grego) e revendo as fotos reparei que nunca tinha usado smalti em nenhum deles. Diga-se de passagem, gastei um tempo precioso economizando smalti para alguma coisa especial. Como a gente muda, não é? Hoje entendo que o momento presente é a coisa mais especial que posso ter, já que estou viva agora, hoje. Amanhã, ninguém sabe.

Com minha plaquinha devidamente preparada, não levou muito tempo para revesti-la. Fiquei olhando meio desconsolada para minha obra. Parecia que alguma coisa estava faltando. Voltei a olhar as fotos e concluí que meu desconsolo não estava no Nazar. É um símbolo que gosto - aliás adoro símbolos de uma forma geral. Ouso dizer que minha desilusão está no smalti mesmo. Sim, é uma delícia cortá-lo no tagliolo. A forma macia, quase escorregadia, como a peça se divide em dois me causa um prazer que somente entendidos entenderão. Mas acho que venerei esse material de uma forma um tanto exagerada ao longo dos anos. Eu o considerava o material mais fabuloso do universo. Sim, ele é de uma beleza singular, maaaaaas acredito que meu parâmetro de beleza foi mudando. Descobri beleza em outros cantos, outras formas e outros materiais...desculpe Sr. Smalti, meu coração agora tem vários donos. Não lhe pertenço mais exclusivamente. O problema não é você. Sou eu. Fui eu quem colocou você num pedestal e exigiu coisas que você não poderia me dar. Espero que não se ofenda e que possamos ainda ser amigos. Eu jamais vou deixar de te admirar. Se reparar bem, você nem precisa de mim. Há uma legião de pessoas que enxerga em você a única possibilidade, percebe? Você ficará bem e eu também. Obrigada pelos anos em que me fez suspirar pelo seu brilho...

Sim, cores mais vívidas não há!

E essa textura tão orgânica? Perfeição.





Não diminuo aqui o mérito do Smalti. Jamais! Apenas aprendi que quando temos uma paixão tão retumbante, precisamos vivê-la naquele instante, quando ela faz todo sentido. Se não, corremos o sério risco da desilusão, da decepção...À paixão idealizada e não vivida conferimos expectativas irreais. Quando finalmente acontece o encontro, não há como corresponder ao mundo dos sonhos. Traduzindo: aquela história de que a roupa boa é para ir ao médico e que a comida boa é para as visitas, minha amiga e meu amigo, isso é uma grande furada. Vamos estrear a roupa em plena quarta-feira e comprar aquele queijo maravilhoso para nós mesmos. Amanhã? Amanhã podemos ficar intolerantes à lactose. Amanhã pode estar frio para usar o vestido de algodão.

Boas paixões e até a próxima!
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Um vaso para plantar esperança.

No meu aniversário, ganhei d'além mar um delicado arranjo de mini rosas. Elas, tão coloridas e generosas, me foram entregues pela funcionária da floricultura em meio a um sorriso aberto de quem ama o trabalho que tem. Só aquele sorriso já foi um presente. O arranjo enfeitou nossa mesinha de café da manhã até as rosas começarem a murchar. Foi só então que percebi que elas estavam plantadas na terra. Corri para o YouTube em busca de orientações sobre como cuidar destas flores. Quanto de sol? Quanto de água? Em meio às respostas às minhas dúvidas constatei com alegria infantil que, sim, existe uma maneira de preparar a roseira para que ela sobreviva ao inverno. Com esse horizonte de esperança à minha frente, fui logo comprar um vaso. Herrsching tem tudo o que você precisa para o seu dia a dia, ainda que não tenha muita variedade. Então comprei o melhor vaso possível e lá fui mergulhar nas infinitas possibilidades de revesti-lo. Escolhe daqui, dali...os desenhos se formando e se modificando na mente...separei o material. Daí para frente é aquela alegria de ver o sentimento tomar forma. Amei o que fiz!

Usei tampas de Club-Mate, pastilhas de vidro, gemas de vidro e pastilhas de cerâmica.
Achei que ficou alegre e com uma cara de arte mexicana, não parece?
A borda e o fundo do vaso pintei de dourado...porque amo dourado.

Desavisados perguntariam porque pintar o fundo. Gente! E por que não? Já dizia alguém que "Deus mora nos detalhes".

 Fiz o plantio das mini rosas um tanto incrédula. Eu adoro plantas, converso com todas, mas tem algumas que me parecem inacessíveis. Rosas são uma delas. Então já comecei o papo pedindo desculpas pela falta de jeito, explicando que nunca tinha cuidado de rosas antes, mas que tinha me informado bastante e que, se elas quisessem, a gente poderia cultivar ali não só as próprias rosas, mas também uma amizade. Acho que ter tido uma conversa franca ajudou. A bichinha não morreu! Só aí já ganhei o mês. Mas o melhor de tudo foi ver as folhinhas novas nascendo. Não me aguentei e enchi a roseira de beijos!!! 

Olha que amor!!! Já expliquei para as outras flores que elas também ganharão casa nova. É só ter paciência.
A sobrevivência da roseira e a esperança que as novas folhas me trouxeram fizeram com que eu notasse uma tristeza resignada que trazia de Berlim. Lá fui deixando de cultivar plantas porque sabia que elas morreriam. Era só uma questão de tempo. Por isso meu primeiro pensamento ao ganhar a roseira foi dúbio. Algo como "que linda!...pena que vai morrer" e tentei me conformar com isso. Precisei de um tempo para ver que uma possibilidade já existia bem ali na minha frente. E, quem sabe, essa possibilidade me traga mais do que sobrevivência. Quem sabe, eu possa sonhar com flores antes do inverno chegar e, se tudo der certo, resistir ao frio para ressurgir na primavera.

Tenho uma relação conturbada com essa história de esperança. A cada novo momento não sei decidir se ela é um véu que colocamos sobre os olhos para não encarar diretamente o que precisa ser visto ou se é um cajado que nos ajuda a caminhar mais longe. Mas hoje, exatamente hoje, ela é tudo que tenho. Sem a ideia de que algum dia verei botões de rosa se abrindo na minha varanda fica muito, muito difícil continuar a jornada. Então, ainda que não saiba definir o que é a esperança, acho que sua função, no final das contas, é simplesmente essa - nos manter aqui.   

Cultivemos o nosso melhor e...até a próxima!
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O colar rosa.

Ainda na seara das tampinhas, estava eu obcecada por tentar outros formatos de bijuteria. Furando daqui e dali e unindo tudo com pequenas argolas posso dizer que as coisas caminharam bem perto do que havia na minha cabeça. Estrutura feita, veio a parte que muitas vezes é a mais demorada: escolher materiais e pensar nas possibilidades para revestir a base. Durante esse exercício de visualizar o abstrato, minha mente era invadida constantemente por pensamentos bem obscuros. Acho que andamos todos temerosos pelo futuro. Ainda que cada um tenha os seus motivos específicos, o que percebo é que temos uma lança de angústia e incerteza fincada em nossos corações. O que fazemos com isso? Acredito que não há mágica que resolva nossos problemas de um dia para o outro. Não há solução sem trabalho, sem espera e sem uma dose de resiliência. Nesses momentos ficamos fragilizados e é muito fácil sucumbirmos à tristeza e ao pessimismo. É como levar um tombo. O mais fácil a fazer é permanecer no chão, afinal você já está lá. Difícil é tomar a decisão de levantar e continuar caminhando. Isso exige muito esforço. Isso exige lidar com a dor. Mas se não fizermos isso, nossa existência vai perdendo o sentido aos poucos.

Dentro desse raciocínio, acho que é muito importante a gente prestar atenção com o que estamos sintonizados. Quando percebo que o botão do meu dial está numa sintonia ruim, entendo que é o momento que devo sair do automático e colocar, conscientemente, meu esforço para encontrar uma sintonia melhor. Foi em meio a essa nuvem de pensamentos que escolhi a cor rosa para predominar nesse colar. Sim, sou dessas que acredita que a cor traz em si vibrações que captamos e manifestamos em estados de espírito. A cor rosa nos fala de amor cósmico, sensibilidade e feminilidade. É símbolo de carinho e afetividade. Ao rosa uni o dourado, cor relacionada ao otimismo e à dignidade, conectada à sabedoria e à espiritualidade.

Ei-lo! Nascido com missão digna de um amuleto.

Você costuma olhar "dentro" das pedras? Pedras translúcidas como essa revelam com certa timidez um universo de beleza.

Pintei as tampinhas de dourado dessa vez.



Repare no charme e na elegância da modelo. :-)


O que tem poder aqui, não é o colar em si. Mas quando usamos símbolos - e também entendo cores como símbolos - preenchemos o objeto em questão com significado. Dessa maneira esse objeto se torna um lembrete do que acreditamos e dos pensamentos que desejamos ter.

Poderia ter escolhido uma música ou um filme para mudar o meu padrão vibratório. Dessa vez usei o mosaico contemporâneo e ele nunca falha.

Boas vibrações a todos e...até a próxima!

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O tempo da espera e a solidão.

Ele estava na fila há anos. Pelo menos quatro anos. Nunca cobrou satisfações pela espera e nunca questionou meus critérios. Permanecia pegando poeira numa serenidade invejável. E acho que era justamente essa calma que foi me irritando. Aquele olhar vago e indiferente que me mirava do alto toda vez que eu me aproximava. Eu estava prestes a começar um novo colar quando decidi colocar um ponto final naquela situação. Ninguém é obrigado a viver com esse tipo de assédio - velado e constante. Trouxe-o para perto de mim, livrei-o da poeira e posicionei-o bem na minha frente. Nos encaramos em silêncio. Antes que o momento ficasse constrangedor, decidi iniciar a conversa inevitável. Fui direta: "Sei que falhei com você. Sei que não cumpri as promessas que te fiz quando te trouxe para junto de mim. Mas você certamente se lembra que as mudanças vieram rápido e transformaram tudo o que conhecíamos. Não quero tentar me justificar, pois nada do que eu disser mudará o tempo que você ficou à espera. Apenas gostaria que você soubesse que não foi descaso. Tinha muita coisa acontecendo e eu não queria que você terminasse num lugar comum. Entenda que  o problema era eu, e não você. Porém, proponho deixarmos tudo isso para trás e tentarmos alguma solução agora. O que eu te ofereço nesse momento tem relação com o que mais acredito hoje. Então você receberá tampas de garrafa e restos de cortes de pastilhas, porque meu pote de restos está muito cheio. A cor predominante será azul, porque tem azul demais no pote. Só por isso. E então, você topa?"

O porta-incenso nunca respondeu. Felizmente. Caso contrário eu precisaria conhecer o serviço de psiquiatria de Herrsching (se é que tem um por aqui). Ainda que discutir a relação com uma peça de MDF não pareça lá muito normal, pelo menos não faz mal a ninguém.

Além das pastilhas e das tampas, usei também canutilhos e miçangas. Preciso confessar que sinto um prazer psicótico em colar miçangas. Por isso tenho planos de usá-las em tudo o que for possível.
Para a pintura do MDF, escolhi preto e dourado.

Eu não sei se ele, o porta-incenso, gostou das combinações que fiz, pois tenho medo de perguntar. Na verdade, tenho medo que ele responda...
Test-drive de gavetas. Aprovado.
Testando a queima do incenso, revendo antigas paixões e dando as boas vindas ao outono. Ciclos que se encerram, ciclos que se iniciam.
Você deve estar pensando que é muita solidão ter conversas profundas com objetos inanimados. Bem, em algum aspecto, sim. Entendo a solidão muito menos como estar fisicamente só e muito mais como estar fora de contexto. É estar rodeado de pessoas e sentir-se um ET. Isso para mim é solidão. Estranhamente, não enxergo um atributo negativo nisso. As coisas são como são e tudo são momentos que, com suas características, se alternam em nossa existência. Simples e misterioso. Pensei novamente sobre isso no último pôr-do-sol que vi. Desses pensamentos saiu isso aqui:

"A cidade onde ouço meus passos".

Meu calçado é ordinário.
A calçada é ordinária.
Ainda assim escuto meus passos.
Sempre que saio à rua eu os escuto, em tom alto e definido.
Há outras pessoas, mas parece que elas não andam ou talvez nem estejam ali.
Só os meus passos marcam compasso.
Os outros não tem pés? Talvez flutuem. Não sei.

Não importa o caminho que percorram, meus passos, que são os únicos que fazem barulho, sempre me conduzem ao lago.
Lá o chão é de pedras e todos os passos fazem o mesmo barulho...mas só os meus pés se machucam.
Só os meus pés não conseguem me sustentar nus sobre as pedras sem sucumbir à dor.
Sei como me defender da dor.
Então, todos andamos sobre as pedras, mas eu posso andar mais rápido ou ir mais longe.
Não sei se isso é uma vantagem.
No fim, todos chegam na água.



Até a próxima!
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O dia em que a tampa e a garrafa se encontraram.

Revestir garrafas é como uma tela de descanso para mim. É o trabalho ideal para ser feito quando tenho uma ideia mas ela ainda está em gestação. Enquanto uma parte da mente fica matutando uma coisa, a outra parte se diverte pensando na coordenação de cores, padrões e texturas. Garrafa para mim é exatamente isso: diversão.

A tampa que usei para essa garrafa era uma tampa mesmo. Sempre faço as tampas a partir de puxadores de gaveta, mas dessa vez foi diferente. Ganhei a tampa há uns bons anos, mas não encontrava a garrafa que combinasse com ela. Como o tempo sempre traz as respostas e as soluções que precisamos, foi só uma questão de esperar. Não que isso seja fácil. Não teve uma santa vez que ,ao iniciar uma nova garrafa, não pegasse essa tampa para ver se encaixava. Quando falo encaixe, é muito menos uma questão mecânica e muito mais uma questão energética. Até que a tampa encaixou. Daí para frente fiz o melhor que pude com aquilo que tenho. Estou nessa onda de quase não comprar material para me forçar a revirar a estante e enxergar mais possibilidades. Tenho achado isso interessante pois influencia diretamente no aspecto final dos trabalhos.

A combinações das cores é uma daquelas que, acredito, não faria por iniciativa própria: azul, amarelo, laranja e branco. Reparei que quase nunca uso branco em garrafas e não tenho a menor ideia do porquê. Quando comecei só sabia que queria fazer um quadriculado e no final me vi repetindo o padrão em outra cor. Fiquei preocupada. Será que estou nesse grau de absorção inconsciente de elementos do ambiente que me cerca? Explico: o brasão da Bavária tem um quadriculado azul e branco. Na verdade não são exatamente quadrados, mas losangos. Porém, o resultado disso, é que tudo aqui carrega o tema "quadriculado azul e branco". Tudo MESMO! De forma que a partir de um certo ponto parece que você vive numa infinita toalha de pique-nique. Pode ser que a resposta ao meu temor seja positiva. Então se vocês começarem a ver, além do quadriculado azul e branco, corações e flores da espécie Edelweiss, saibam que fui abduzida pelas referências locais e que corro o risco de achar a Oktoberfest uma coisa bacana.

Diferenças culturais à parte, posso dizer que o aspecto final desta garrafa tanto me intriga (racionalmente) quanto me alegra (emocionalmente). Agora vocês podem tirar sua próprias conclusões...

Pastilhas do tipo cristal, pastilhas pigmentadas, stained glass, vidrotil, pastilhas lisas e furtacor...

...tudo serviu de pano de fundo para a parte central que tem peças de metal dourado, um lindo coração de fusing e meus últimos miçangões.

A tampa foi um estímulo à parte tanto pelo formato quanto pela combinação de cores.

A filha mais nova é uma das mais altas da família.

E ficou tão harmônica entre os vasos que deu vontade de ter uma jardim só meu para "plantar" garrafas entre os vasos.


O que eu não sei ao certo é se de fato levou esse tempo todo para a tampa e a garrafa se encontrarem ou se sempre estiveram ali e era eu que não estava atenta para o encontro. Estava vendo, mas não estava enxergando. Seja o que for, a constante é que cada um de nós possui as próprias lentes para ver o mundo e para se ver nele. Não é uma loucura imaginar a quantidade de realidades existentes por aí?

Até a próxima!

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